"Porque o perfeito não é impecável. A perfeição está na forma como toda a imperfeição se harmoniza."

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sábado, 18 de agosto de 2012

Posses

Desde que te vi, vi mais do que poderia haver num só olhar;
todo o conjunto subjetivo pairou por um tempo,
e o tempo, que de saber variava a cada noção adquirida,
que soava como abstratividade corrente e indevida,
fez saltar como dúvida o que morria a cada novo pensar.

Todo o tempo teço, tiro, trago e traduzo,
assim sendo como tudo o que é meu.
E eis que, no mais do mais, o você,
sempre presente, quase imortalizado,
o é através do resultado expressivo.
Mesmo nunca vindo a ser, tenho-te gravado como minha arte,
e, de tão minha, faço os traços do abstrato tão tangíveis quanto o concreto.
Eis que não te quero, mesmo querendo.

Pois o belo é objeto de desejo;
o desejo é perigoso enquanto age em demasia.
E, quando o desejo vem contra a razão,
creio que fazer esta falar mais alto é façanha para poucos.
A busca é por mim, para mim.
Mesmo sendo meu, mesmo sendo aprazível,
ainda que exceda o controle do normal. Serei anormal.

Grandessíssimo passeio pelas vicissitudes pessoais
suscita a  proposição: "Meu é o meu eu, pois, sem ele, eu nada sou."
E viver em torno da falta de um ser objetivo e próprio
anula a razão do próprio viver.
Pois a vida sem motivo não é nada mais além de convenção;
a vida sem motivo não é vida.
Sendo para um, para vários;
sendo pra o um que é quem vive.
Seja o que for, posso deixar a estigma inabalável:
Mesmo que tenha o prazer e goze da arte alheia,
o meu eu é meu, assim como o alheio o é inteiramente;
e que seja hermeticamente selado o que não pode variar,
o que é como a noção de sempre.


Assim, sou meu, mesmo que venha a ser seu. E ponto.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Amanhã

Amanhã revirava-se e rasgava-se como se fosse se, mesmo sem ser;
amanhã, mesmo sendo como se fosse o que foi do que poderia ser.
E sempre, sempre amanhã.
Não é hoje, pois mesmo o hoje se revirava. 
E a minha alegria, nem foi, nem era... Mas pôde ser.
Porque por mais que eu tenha, sempre me escapa;
e por mais que eu tente ter sido
sempre serei dele, por ele, oriundo e predisposto.

Ontem não vi, não escrevi nem revelei.
Contudo, poderia ter sido. Poderia ter tido.
Eu sou, pois não poderia ter passado sem ser,
nem seria sem ser.
Ontem, mesmo sendo vago, obscuro.
Não mudo, antes sou;
e o sempre, por ser tão simples,
é o que eu sou, dele, por ele,
tão vago quanto vago pode ser
o que sequer existe.

E hoje, é todo o conjunto.
Hoje é tudo o que sempre parece não ser;
mesmo partindo do que será ou voltando do mesmo,
saindo do que foi e, sem parar,
nunca sabendo se o tempo vai parar.
Mas, e o tempo, aonde foi?
Fugiu com o que de noção havia 
no que nunca pode ser, mas sempre será,
enquanto ser. Enquanto é.